Se intitulava artista dos becos e das crises existenciais dos seres humanos. Naquele momento - jamais o chamaria de único - sua inspiração tinha nome e sobrenome bem definidos. Tinha contornos de um rosto capaz de representar a perfeição facilmente num Universo só dela. Possuía olhos vítreos e penetrantes, dissecando cada um dos sentimentos que nela moravam. Os barulhos externos já haviam feito presença no segundo plano daquela cena; em primeiro, a pele nua, os cabelos desgrenhados presos num coque prestes a cair, as pernas juntas demonstrando alguma tensão e um coração batendo. A música presente apenas determinava o compasso no qual escrevia.
Ainda se perguntava o porquê de ter armazenado cada uma daquelas expressões, gestos e cacoetes que o faziam significante para ela. Não, não havia vivido romances reais e arrebatadores e o que sabia se baseava em sentimentos e em coisas que havia lido. Quando chorava? Seus momentos mais humanos? Diante de animações, tristes canções e animais morrendo em filmes.
Poderia muito bem ser um autorretrato.
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